Nós otorrinolaringologistas diagnosticamos com freqüência com quadros de processo inflamatórios crônicos de vias aéreas superiores em decorrência de alterações do sistema digestivo. São as chamadas manifestações extra-esofágicas da Doença do Refluxo Gastro-esofágico. Que no caso de adultos, cursa com quadro de irritação freqüente de faringe, pigarro, tosse seca, sensação de “bolo” ou aperto na garganta, e em algumas vezes esses sintomas vêm isolados, até mesmo sem os sintomas gastro-esofágicos típicos como azia, má digestão, empachamento, etc.
Por esse motivo necessitamos em um numero significativo de pacientes prescrever Omeprazol ou optar por um dos IBPs (Inibidores de Bomba de Prótons) mais novos como Pantoprazol, Lanzoprazol e Esomeprazol. Esses são utilizados largamente por colegas de outras especialidades para uma gama de patologias como esofagite de refluxo; gastrite; acidez estomacal; úlcera duodenal; úlcera do estômago, dentre outros, sendo então a segunda classe de medicamento mais consumida no mundo. Além de ser medicação de livre demanda e de conhecimento amplo do publico em geral, muito utilizado indiscriminadamente, sem acompanhamento médico .
Ultimamente temos nos deparado com freqüência com questionamentos em relação a alguns trabalhos publicados e largamente replicados na mídia que evidenciaram a demência como possíveis complicações do uso crônico dessas drogas. Por esse motivo resolvi escrever para esclarecer alguns pontos.
Em relação a demência o estudo mais conhecido, publicado na JAMA- The Journal of the American Medical Association, avaliou durante 14 anos ( 1997 a 2011) pacientes em consumo contínuo (por dois anos ou mais) de doses elevadas de omeprazol – 80 mg/dia. O estudo concluiu que as pessoas que tomaram omeprazol ou similar durante muito tempo tinham 65% mais chances de ter níveis baixos de vitamina B12 no organismo, o que pode levar por sua vez a problemas neurológicos graves, como demência e, adicionalmente, anemia. Por tanto o que causa problemas neurológicos é a deficiência de Vit B12 causada pela supressão da produção de ácido gástrico e consequente má absorção da vitamina e não um efeito direto da droga. O próprio estudo, no entanto, alerta que se houver redução de ao menos metade da dosagem, ou pausas entre um período e outro de uso, a vitamina B12 necessária pode ser recuperada pelo organismo. Por tanto, a questão é o uso consciente e, principalmente, orientado por prescrição médica, a qual dificilmente irá manter uma dose tão alta em um tempo tão prolongado, sem solicitar exames de controle. Em geral associamos à terapia medicamentosa, terapia nutricional, que se mostrou ponto chave do tratamento, tendo um benefício muito mais significativo a longo prazo. Além de realizar exames de rotina no acompanhamento.